quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 99

A violeta exibida, assim a reprovei:
“Doce ladra, de onde roubaste o suave perfume,
Senão do alento do meu amor? O orgulho róseo
Que vive nas faces macias de tua compleição,
Tiraste grosseiramente das veias da minha amada”.
O lírio que condenei em tua mão,
E as folhas de orégano dispersas em teu cabelo;
As rosas, medrosas, calaram-se com seus espinhos,
Uma, corada de vergonha; outra, lívida de desespero;
A terceira, nem pálida, nem rubra, a ambas roubou,
E para seu roubo, juntou o teu hálito;
Mas, para seu furto, orgulhosa de crescer,
Um vingativo câncer consumiu-a até morrer.
Vislumbrei inda mais .ores, embora não visse nenhuma,
Senão a doçura ou a cor que de ti roubou.

SONETO 100

Musa, onde estás, que há tanto tempo te esqueces
De dizer aquilo que te dá todo o teu poder?
Usaste teu furor em uma canção espúria,
Reduzindo a força para emprestar-lhes tua luz?
Volta, esquecida Musa, e redime logo
Em doces horas o tempo inutilmente despendido;
Canta para os ouvidos de quem te estima,
E dá, à tua pluma, talento e voz.
Levanta, leve Musa, vê na suave face do meu amor
Se o Tempo a marcou com alguma ruga:
Se há, ri da decadência,
E despreza os despojos do Tempo por toda a parte.
Dá a meu amor fama mais rápido do que o Tempo gasta a vida;
Para que, de sua foice, me afastes a encurvada lâmina.

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