sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 71

Não chores mais por mim depois que eu morrer,
Ao ouvir o sombrio e escuro sino
Anunciando a todos que parti
Deste mundo vil, habitado por vermes ainda mais vis:
Não, se leres este verso, não lembres
Da mão que o escreveu; pois te amo tanto,
Que prefiro ser esquecido de teus doces pensamentos,
Se lembrar de mim te causar algum pranto.
Ah, se (eu digo) leres este verso
Quando eu já estiver misturado à terra,
Não ensaies repetir meu pobre nome;
Mas deixa teu amor apodrecer com minha vida:
A menos que o mundo pondere e perscrute tua dor,
E despreze a ti, por mim, após minha partida.

SONETO 72

Ó, a menos que o mundo te obrigue a dizer
Que méritos tanto amavas em mim
Após a minha morte, amor, esquece-me;
Pois nada podes provar sobre o meu valor,
A menos que inventes uma grande mentira
Para fazer por mim mais do que eu mesmo,
E imputar mais elogios depois que eu morrer
Do que a dura verdade poderia me conceder.
Ó, a menos que teu amor agora seja falso,
Que tu, por amor, mintas para falar bem de mim,
Meu nome seja enterrado com meu corpo,
E deixe de viver para não vexar a mim nem a ti;
Pois me envergonho de tudo que faço;
E tu, também, por amar o que não tem valor.

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