quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 97

Como o inverno, tornou-se minha ausência
De ti, o prazer com que passou o ano!
Que frio senti, que dias negros eu vi!
A estiagem de dezembro espalhou-se por toda a parte!
E longe .cava, então, o verão,
O próximo outono, crescendo com toda a força,
Suportando o luxurioso peso do início,
Como úteros viúvos após a morte de seus senhores;
Embora esse farto assunto me pareça
A esperança de órfãos, e de frutos sem ascendência,
Pois o verão e seus prazeres servem a eles,
E, embora distante, os mesmos pássaros emudeçam;
Ou, se cantam, emitem um trinado tão mortiço,
Que as folhas empalidecem, por temerem o inverno.

SONETO 98

De ti me afastei na primavera,
Quando o orgulhoso abril, todo aprumado,
Em tudo pôs um sopro de juventude,
Que o plúmbeo Saturno se riu e com ele saltou.
Embora nem os bandos de pássaros, nem o doce perfume
De diferentes .ores em cor e odor
Poderiam me fazer contar uma história de verão,
Ou tirá-las do farto regaço onde vicejam;
Não me surpreendi com a brancura do lírio,
Nem elogiei o carmim intenso da rosa;
Eram apenas doces, apenas figuras de encanto,
A imitarem a ti, tu, modelo de todas elas.
Embora ainda parecesse inverno, e tu, à distância,
Como com tua sombra, eu, com elas, brinquei.

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