quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 119

Que poções bebi das lágrimas das Sereias,
Destiladas dos troncos que queimam como o inferno,
Vertendo medos em esperanças, e esperanças, em medos,
Sempre perdendo quando eu estava a ponto de vencer?
Que males terríveis cometeu meu coração,
Enquanto se julgava jamais abençoado!
Como vagaram meus olhos fora de suas órbitas,
Ao se distraírem nessa louca febre!
Ah, o benefício da dúvida! Agora descubro ser verdade
Que o bem se aperfeiçoa com o mal;
E o amor arruinado, ao ser reconstruído,
Cresce mais belo, mais forte e se torna ainda maior.
Então, retorno, refeito, ao meu contentamento,
E ganho, por sorte, três vezes mais do que gastei!

SONETO 120

Tu, que um dia me ofendeste, sê meu amigo agora,
E aquela mágoa que então senti
Devo relevar como uma antiga transgressão,
A menos que meus nervos fossem de aço ou de ferro.
Se fosses atacado por minha grosseria,
Como fui por ti, viverias um inferno,
E eu, tirano, não sossegaria,
Até mostrar-te quanto sofri com a tua ofensa.
Ó, que nossa noite de pesar nos lembre,
No fundo, quão dura é a tristeza,
E logo para ti, como de ti para mim, então servido
O humilde bálsamo que unge o peito ferido!
Mas teu ultraje agora assume um preço;
O meu te redime, e o teu redime a mim.

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