sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 45

Os dois outros, o ar leve e o fogo ardente,
Estão contigo aonde quer que eu me encontre;
O primeiro, meu pensamento, o outro, meu desejo,
Entre a presença e a ausência, deslizam furtivamente;
Pois quando se vão estes rápidos elementos
A prestar-te os doces louvores do amor,
Minha vida, feita de quatro, com dois apenas
Fenece e morre, subjugada pela melancolia;
Até que a composição da vida seja sanada
Por teus lépidos mensageiros,
Que somente agora retornam, afiançando
Teu bem-estar, deixando-me em sossego.
Assim, me regozijo; porém, insatisfeito,
Rechaço-os, e torno-me ainda mais infeliz.

SONETO 46

Meus olhos e coração travam uma guerra mortal
De como repartir entre eles a visão que têm de ti:
Meus olhos rejeitam o que meu coração vê,
Meu coração, aos meus olhos, a liberdade de te ver.
Meu coração alega ser por ele que te vejo
(Um quarto nunca visto com olhos puros),
Mas os acusados negam-lhe a autoria,
E dizem que és bela somente para eles.
A demanda, sem precedentes,
Divide as opiniões, todos reféns do coração;
E por seu veredicto se determina
A parte dos olhos claros e do doce coração –
Assim: meus olhos veem o que me mostras,
E meu coração vê apenas o teu amor.

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