quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 127

Em tempos remotos, o negro não era belo,
Ou se fosse, assim não seria chamado;
Mas agora surge o herdeiro da negra beleza,
E o belo está imprecado de bastardia;
Desde que as mãos detêm o poder sobre a natureza,
Embelezando a feiura com o falso rosto da arte,
A doce beleza não tem nome, nem jardim sagrado,
Vive profanada, ou caiu em desgraça.
Os olhos de minha senhora são escuros como o corvo,
Tão belos são seus olhos, e sua tristeza tão comovente,
Que, mesmo sem ser bonita, ainda é bela,
Difamando a criação com falsa estima.
Eles se entristecem com a própria aflição,
Ao ouvirem não haver beleza como a dela.

SONETO 128

Toda vez, quando tu, minha música, tocas
O abençoado cravo que emite os sons
Com o movimento de teus dedos, quando, doce,
Tanges as cordas que confundem meus ouvidos,
Invejo essas teclas, que, ágeis, saltam
Para beijar a suave concavidade de tuas mãos,
Enquanto meus pobres lábios, que deveriam beijá-las,
Permanecem impávidos e corados, junto ao cravo.
Ao serem acariciados mudariam de condição
E de posição com as teclas dançarinas
Sobre as quais teus dedos caminham alegres,
Tornando a madeira morta mais viva do que os lábios.
Como as teclas saltitantes que tocam felizes,
Dá-lhes teus dedos, e teus lábios, a mim.

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