sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 61

É teu desejo que tua imagem mantenha abertas
Minhas pesadas pálpebras nesta fatigada noite?
Desejas que meu sono se quebre,
Enquanto as sombras zombam ao me ver?
É teu espírito que envias até a mim
Tão longe de casa, para me bisbilhotar,
Para desvendar meus erros e ociosas horas,
Mantendo vivo e aceso o teu ciúme?
Ah, não! Teu amor, mesmo imenso, não é tão grande;
É meu amor que deixa meus olhos despertos,
Meu amor verdadeiro que corrói meu descanso,
Para manter-me em vigília por tua causa.
A ti vigio, enquanto ao longe despertas,
Tão distante de mim, e de outros, tão perto.

SONETO 62

O pecado do amor-próprio toma meus olhos,
E toda a minha alma, e todo o meu corpo;
E para este pecado não há qualquer remédio,
Tão entranhado está em meu coração.
Penso que nenhum rosto seja tão belo quanto o meu,
Não há forma mais verdadeira, nem jamais vista,
E por mim meu próprio valor se define,
Por superar qualquer outro.
Mas quando o espelho me revela quem sou,
Abatido e carcomido pelos anos,
Meu amor-próprio se contraria;
Ser tão autocentrado seria uma iniquidade.
Tu és (eu mesmo) aquele que em meu nome elogio,
Pintando meus anos com a beleza de teus dias.

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