sábado, 18 de julho de 2009

SONETO 31

Teu peito contém todos os corações,
Que eu, por não os ter, supus mortos;
E onde reina o amor, e tudo o que o amor mais ama,
E todos os amigos que pensei jazidos.
Quantas lágrimas santas e obsequiosas
Roubaram o amor sagrado de meus olhos,
Como maldição dos mortos, que agora ressurge
Entre coisas invisíveis que em ti se ocultam!
Tu és a tumba onde o amor enterrado vive,
Preso aos trunfos dos amores que partiram,
Que entregaram a ti tudo que pertence a mim;
E, por isso, tudo agora é apenas teu:
Tudo que neles amei, eu vejo em ti,
E tu (todos eles) me tens em tudo o que sou.

SONETO 32

Se sobreviveres à plenitude do meu dia,
Quando a Morte vil com o pó cobrir meus ossos,
E, por sorte, mais uma vez releres
Estes pobres e rudes versos de teu falecido amante,
Compara-os com o apuro do tempo,
E embora sejam superados por outras plumas,
Guarda-os pelo meu amor, não pela rima,
Suplantada pela excelência de homens mais felizes.
Ó poupe-me, salvo este pensamento amoroso:
‘Se a Musa de meu amigo tivesse crescido com a sua idade,
Seu amor gerou um nascimento mais caro do que este
Para cerrar as fileiras mais bem equipado;
Mas como ele morreu, e os poetas se provaram melhores,
Lerei seus poemas pelo estilo e, os dele, pelo seu amor’.

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