sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 39


Ó, como poderei com modos exultar teu valor,
Se de mim és a melhor parte?
O que podem os meus louvores trazer a mim,
E o que sou senão eu mesmo quando te elogio?
Mesmo aqui deixem que vivamos divididos,
E nosso doce amor perder seu nome,
E por esta separação eu lhe cause
Que, graças a ti, tu a mereças sozinha.
Ó ausência, que tormento provarias,
Se teu amargo lazer não te libertasse
Para entreter o tempo com pensamentos de amor –
Que o tempo e pensamentos docemente enganam –
E que ensines como serem únicos,
Ao elogiá-lo aqui, e permanecer assim.


SONETO 40


Toma todos os meus amores, meu bem, sim, toma-os todos;
O que mais tens agora que antes já não tinhas?
Nenhum amor, meu bem, que possas chamar de amor;
A mim tinhas por inteiro, antes de me teres mais ainda.
Então, se pelo meu amor tu o recebeste,
Não posso culpar-te pelo meu amor que usaste;
Mas, mesmo culpada, se porventura te enganaste,
Por orgulho do que tu mesma recusaste.
Perdoo-te por teres me roubado, gentil ladina,
Embora roubes de mim toda a minha riqueza;
Ainda assim, o amor sabe, é uma tristeza inda maior
Suportar do amor o erro do que a injúria do desamor.
Lasciva graça, em quem todo o mal se mostra,
Mata-me com teu desprezo, mas não nos tornemos inimigos.

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