quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 111

Ó, por mim, desprezas a Sorte,
A deusa culpada de meus malfeitos,
Que não deu mais à minha vida
Do que meios advindos dos modos mais comuns.
Então, sobrevém que meu nome receba uma marca,
E quase de imediato minha natureza se subjuga
Ao que se afaz, como à mão do tintureiro.
Tem pena de mim: desejava-me renovado,
Assim como um paciente, aquiesço e bebo
As poções para curar minha forte infecção;
Nenhum amargor que eu julgue amargo,
Nenhuma dupla sentença para corrigir a correção.
Tem pena de mim, cara amiga, e te asseguro
Que até a tua pena é bastante para dar-me a cura.

SONETO 112

Teu amor e o pesar dão-me a impressão
Estampando o escândalo vulgar em meu cenho;
Que me importa quem me queira bem ou mal,
Senão tu, sobre meu bom ou mau alento?
Tu és todo o meu mundo, e devo esforçar-me
Para saber as más e boas opiniões que tens sobre mim;
Não há ninguém para mim, nem eu para mais ninguém,
Que meu duro sentido mude para o bem ou para o mal.
Num abismo assim profundo lanço tudo que me importa
Que os outros digam que meu senso viperino
Pela crítica e o elogio sejam impedidos.
Veja como dispenso com minha negligência:
Vives tão firme em meu propósito,
Que todos além de mim já feneceram.

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