segunda-feira, 13 de julho de 2009

SONETO 145

Estes lábios que a mão do Amor criou,
Entreabriram-se para dizer, “Eu odeio”,
A mim que sofria de saudades dela:
Mas, ao ver meu estado desolado,
Seu coração se tomou de piedade,
Repreendendo a língua, que, sempre tão doce,
Foi gentilmente usada para me exterminar;
E ensinou-lhe, assim, a dizer, novamente:
“Eu odeio”, alterou-se, por fim, sua voz,
Que se seguiu como a noite
Segue o dia, que, como um demônio,
Do céu ao inferno é atirado.
“Eu odeio”, do ódio ela gritou,
E salvou-me a vida, dizendo – “Tu, não”.

SONETO 146

Pobre alma, centro do meu mundo de pecado,
Alimentando as forças rebeldes que alinhas,
Por que hás definhado de miséria e fome,
Pintando teus muros com suntuosas cores?
Por que gastas tanto, pagando tão pouco,
Com a mansão onde vives em desagrado?
Os vermes, herdeiros desse excesso,
Comerão o que gastas? Este é o fim de teu corpo?
Então, alma, vive com o que desperdiça o teu servo,
E deixa a gula consumir os teus bens;
Compra o céu vendendo as horas de fastio;
Alimenta o teu estômago e despende toda a tua riqueza.
Assim, sustentas a morte que mantém os homens,
E, uma vez morta, a morte estará extinta.

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