sábado, 18 de julho de 2009

SONETO 35

Não te entristeças mais pelo que fizeste:
As rosas têm espinhos, e a prata jaz sob a lama;
As nuvens e os eclipses encobrem o sol e a lua,
E o terrível negrume vive no doce botão.
Todo homem erra, e mesmo eu aqui,
Permitindo que ouses comparar,
Minha corrupção, salvando tua omissão,
Desculpando em excesso os teus erros;
Pois teu pecado sensual eu considero –
Teu adversário é teu advogado –
E contra mim instaura-se um pleito;
Há uma guerra civil entre o amor e o ódio
Em que me torno cúmplice
Do ladrão, que, malicioso, rouba a mim.

SONETO 36

Deixa-me confessar que devemos ser iguais,
Embora nossos amores indivisos sejam um;
Da mesma forma que as manchas que ficam comigo,
Sem teu auxílio, para que eu as suporte sozinho.
Em nossos amores, há o mesmo respeito,
Embora em nossas vidas o mal nos separe,
Que, mesmo sem alterar os efeitos únicos do amor,
Consegue subtrair doces horas do amoroso prazer.
Eu jamais poderia te reconhecer,
A menos que minha culpa te envergonhe;
Nem tu publicamente com gentilezas me honrarias,
A menos que tire essa honra de teu nome.
Mas não faças isso; amo-te de tal modo,
Pois, sendo minha, de ti só direi o bem.

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