SONETO 67
Ah, onde deveria viver infecto
E com sua presença favorecer a impiedade,
Dando vantagem ao pecado,
E aliando-o à sua companhia?
Por que deveria falsificar seu retrato,
E dar aos mortos o tom de sua vívida cor?
Por que deveria a pouca beleza buscar, trôpega,
Sombras róseas, se sua cor rosada é verdadeira?
Por que ele deveria viver, agora que a natureza ruiu,
Suplicando ao sangue que suba à tona por suas veias?
Pois ela não tem outro provedor senão o dele,
E orgulhoso de muitos, vive de seu proveito,
Ó, ela o alimenta, para mostrar a riqueza
Que há muito tinha, antes de vencer o mal.
SONETO 68
Seu rosto revela o mapa de outros dias,
Quando a beleza vivia e fenecia como as flores,
Antes que nascessem esses malignos e belos sinais,
Ou que ousassem vir cobrir-te a fronte;
Antes dos dourados cachos dos finados,
O direito dos sepulcros fossem cortados
Para viver outra vida em outra cabeça,
Os cachos mortos da beleza a adornar outro.
Nele as sagradas e antigas horas se veem
Sem nenhum ornamento, a face despida e verdadeira,
Sem reviver com o verdor de outro verão,
Sem roubar um velho adorno para usá-lo como novo;
E ele como um mapa a natureza guarda,
Para mostrar com falsa Arte como a beleza fora um dia.
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