quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 95

Que doce e amorosa transformas a vergonha,
Que como um câncer na perfumada rosa
Realça a beleza de teu próprio nome!
Ó, com que doçuras envolves teus pecados!
A língua que conta tua história,
Comentando lasciva teu divertimento,
Não pode desprezar, como se elogiasse,
Dizendo teu nome, bendizendo a maldição.
Ó, que mansão apreendeu esses vícios
Que para habitá-lo escolheu a ti,
Onde o véu da beleza esconde toda a mácula,
E tudo diante dos olhos se embeleza!
Atenção, meu coração, para este grande sortilégio:
Se mal usada, a faca mais afiada perde seu fio.

SONETO 96

Alguns dizem ser teu erro a juventude; outros, a lascívia;
Outros dizem ainda que a juventude e o ânimo dão-te graça.
Tanto a graça quanto os erros são bem ou mal amados;
Transformas faltas em bênçãos como bem te aprazem.
Como no dedo de uma rainha coroada
A mais simples joia será mais cara,
Assim são os erros que diviso em ti,
Traduzidos como verdade e tidos como autênticos.
Quantas ovelhas pode o astuto lobo enganar,
Se na ovelha pudesse se transformar!
Quanto assombro não irias afastar,
Se usasses o poder concedido por teus bens!
Mas não faças isso; amo-te de tal modo, que
Por seres minha, digo que tudo fazes à perfeição.

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