SONETO 73
Vês em mim esta época do ano
Quando poucas ou nenhuma folha amarelecida
Nos galhos que tremem ao vento frio,
Coros desertos onde os doces pássaros cantavam.
Em mim, vês o crepúsculo deste dia
Após o naufrágio do sol a Oeste,
Que, pouco a pouco, a noite escura afasta,
A outra face da Morte, que tudo silencia.
Em mim, vês o brilho deste fogo
Que permanece nas cinzas de sua juventude,
Como o leito de morte onde deve expiar,
Consumido pelo ardor que o nutria.
Isto vês, que fortalece o teu amor,
Para amar o que logo irás abandonar.
SONETO 74
Alegra-te: quando a dura prisão
Sem dó para longe me arrastar,
Minha vida tem neste verso um interesse,
Que, em memória, ainda em ti continuará.
Quando o revires, verás de novo
Tudo o que consagrei a ti.
A terra terá apenas a terra, que a ela pertence;
Meu espírito é teu – a melhor parte de mim:
Então, quando dissipares o que restar de tua vida,
Presa dos vermes, meu corpo sucumbido;
Na covarde conquista de um punhal maldito,
Haverá muito pouco de ti para ser lembrado.
Seu valor está no que ele contém,
E isto é o que vale e, este sim, ficará contigo.
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