segunda-feira, 13 de julho de 2009

SONETO 147

Meu amor arde como febre, ansiando ainda
O que por muito tempo causou-me mal-estar;
Alimentando o que me mantém doente,
Para satisfazer o apetite incerto e doentio.
Minha razão, o médico do meu amor,
Zangado por sua prescrição não ser seguida,
Abandonou-me e, eu, desesperado, agora sei
Que meu desejo é a morte que a ciência pôs de lado.
Não tenho mais cura, não tenho mais razão,
Enlouquecido em eterno desassossego;
Meus pensamentos e minhas palavras são de um louco,
À parte da verdade expressa em vão;
Pois te jurei ser autêntico, e acreditei-te iluminada,
Tu, que és negra como o inferno e escura como a noite.

SONETO 148

Ó, vida! Que olhos o amor me deu
Que não correspondem ao que vejo?
Ou, se for verdade, o que houve com meu julgamento,
Que censura mal o que corretamente veem?
Se for justo o que meus falsos olhos vislumbram,
O que é o mundo se dissermos que ele não o é?
E se não for, então, o amor bem prova
Seu olhar não ser tão verdadeiro: não,
Como é possível? Ah, como pode o Amor ver bem,
Se está tão ocupado em mirar e prantear?
Não há surpresa, assim, que meus olhos vejam mal;
O próprio sol não vê senão quando o dia está claro.
Ah, astuto amor! Cegas-me com tuas lágrimas,
Para que meus bons olhos não vejam tuas iníquas falhas.

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