sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 63

Contrário o meu amor será como sou hoje,
Com a mão injuriosa, esmagada e gasta pelo Tempo;
Quando as horas tiverem secado o sangue e coberto o cenho
Com linhas e rugas; quando a sua fresca manhã
Ascender à alta noite senil,
E todas as belezas das quais hoje ele é rei
Minguarem, ou sumirem de vista,
Roubando o tesouro de sua primavera;
Por esse tempo agora eu me oponho
Contra a faca cruel da confusa idade,
Que ele jamais ceifará da lembrança
A suavidade do meu amor, embora lhe tire a vida.
Nestas negras linhas ficará a sua beleza,
E que viverão, mantendo o meu amado vivo.

SONETO 64

Ao ver a cruel mão do tempo apagar
Dos ricos o orgulho graças à decadência da idade;
Quando, por vezes, as altas torres são destruídas,
E o eterno escravo do metal entregue à mortal ira;
Ao ver o oceano faminto ganhar
Vantagem sobre os domínios das encostas;
E a terra firme avançar sobre o braço de água,
Equilibrando-se entre as perdas e ganhos;
Ao ver tal mudança de condição,
Ou a própria condição confundida, a decair,
Assim ensinou-me a pensar a ruína:
Que o tempo virá e levará o meu amor.
Este pensamento é mortal, sem outra escolha
Senão lamentar ter o que se teme perder.

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