http://ibislibris.loja2.com.br/3983111-154-Sonetos
(cole no seu browser para adquirir o livro na loja virtual da Ibis Libris)
SONETO 73
Vês em mim esta época do ano
Quando poucas ou nenhuma folha amarelecida
Nos galhos que tremem ao vento frio,
Coros desertos onde os doces pássaros cantavam.
Em mim, vês o crepúsculo deste dia
Após o naufrágio do sol a Oeste,
Que, pouco a pouco, a noite escura afasta,
A outra face da Morte, que tudo silencia.
Em mim, vês o brilho deste fogo
Que permanece nas cinzas de sua juventude,
Como o leito de morte onde deve expiar,
Consumido pelo ardor que o nutria.
Isto vês, que fortalece o teu amor,
Para amar o que logo irás abandonar.
SONETO 74
Alegra-te: quando a dura prisão
Sem dó para longe me arrastar,
Minha vida tem neste verso um interesse,
Que, em memória, ainda em ti continuará.
Quando o revires, verás de novo
Tudo o que consagrei a ti.
A terra terá apenas a terra, que a ela pertence;
Meu espírito é teu – a melhor parte de mim:
Então, quando dissipares o que restar de tua vida,
Presa dos vermes, meu corpo sucumbido;
Na covarde conquista de um punhal maldito,
Haverá muito pouco de ti para ser lembrado.
Seu valor está no que ele contém,
E isto é o que vale e, este sim, ficará contigo.
SONETO 75
És, para mim, como o alimento para a vida,
Ou a chuva amena para o solo no tórrido verão;
E, para teu bem-estar, me esforço
Entre a miséria e a riqueza:
Orgulhoso com o desfrute, e logo
Duvidando que a idade roube seu tesouro;
Agora espero estar apenas contigo,
Então, melhor para que o mundo me veja bem;
Por vezes, comemorando à nossa vista,
E aos poucos ansiando por um olhar;
Possuindo ou perseguindo qualquer prazer,
Exceto aquilo que se tem ou seja tirado de ti.
Assim, jejuo e sobrevivo a cada dia,
Ou a tudo devoro, o tempo todo.
SONETO 76
Por que meu verso está tão minguado,
Sem variação ou rápidas mudanças?
Por que com o tempo não olho para o lado
Buscando novos métodos e estranhos modos?
Por que escrevo da mesma forma, a mesma coisa,
E deixo à parte a invenção,
Que cada palavra se torne minha conhecida,
Mostrando-me de onde vem?
Ó, saiba, amor, que é para ti que escrevo,
E tu e o amor sois ainda meus assuntos;
Então, o melhor que faço é reescrever as velhas palavras,
Aplicando novamente o que já foi usado;
Como o sol que, a cada dia, é sempre velho e novo,
Assim é o meu amor, dizendo tudo que se diz.