sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 73


Vês em mim esta época do ano

Quando poucas ou nenhuma folha amarelecida

Nos galhos que tremem ao vento frio,

Coros desertos onde os doces pássaros cantavam.

Em mim, vês o crepúsculo deste dia

Após o naufrágio do sol a Oeste,

Que, pouco a pouco, a noite escura afasta,

A outra face da Morte, que tudo silencia.

Em mim, vês o brilho deste fogo

Que permanece nas cinzas de sua juventude,

Como o leito de morte onde deve expiar,

Consumido pelo ardor que o nutria.

Isto vês, que fortalece o teu amor,

Para amar o que logo irás abandonar.


SONETO 74


Alegra-te: quando a dura prisão

Sem dó para longe me arrastar,

Minha vida tem neste verso um interesse,

Que, em memória, ainda em ti continuará.

Quando o revires, verás de novo

Tudo o que consagrei a ti.

A terra terá apenas a terra, que a ela pertence;

Meu espírito é teu – a melhor parte de mim:

Então, quando dissipares o que restar de tua vida,

Presa dos vermes, meu corpo sucumbido;

Na covarde conquista de um punhal maldito,

Haverá muito pouco de ti para ser lembrado.

Seu valor está no que ele contém,

E isto é o que vale e, este sim, ficará contigo.

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