quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 105

Não deixes meu amor ser chamado idolatria,
Nem minha amada, de meu ídolo,
Pois todos os meus cantos e versos são apenas
Para ela, sempre sobre ela, e muito mais ainda.
Amável é meu amor, hoje e amanhã,
Sempre constante em maravilhoso espanto;
Portanto, meu verso, preso à constância,
Ao dizer uma coisa, entrevê outra.
Bela, gentil e verdadeira, é tudo o que digo,
Bela, gentil e verdadeira, dito com tantas palavras;
E, nesta alternância, uso a minha mente,
Três em um, que suporta a soberba visão.
Bela, gentil e verdadeira sempre viveram sozinhos,
Pois, juntos, até hoje, nunca existiram em ninguém.

SONETO 106

Quando na passagem do tempo perdido
Vejo descritos os belos ramos,
E a beleza emprestar seus dons à velha rima,
Ao elogiar as damas mortas e os belos cavaleiros,
Então, no brasão da melhor doçura da beleza,
Da mão, dos pés, dos lábios, dos olhos, da fronte,
Vejo que sua antiga pluma teria expressado
Mesmo tal beleza como teu senhor agora.
Então, todos os elogios não são senão profecias
Deste nosso tempo, tudo que pressagias,
E, mesmo vendo com olhos de adivinho,
Não tinham talento suficiente para cantar os teus dons;
Pois nós, que hoje aqui estamos, e vemos,
Temos olhos para sonhar, mas não línguas para louvar.

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