sexta-feira, 17 de julho de 2009

SONETO 43

Quanto mais pisco, melhor meus olhos veem,
Pois o dia todo vislumbram coisas que nada são;
Mas, quando adormeço, surges em meus sonhos,
E, luzindo no escuro, fulgem em meio ao breu;
E tu, cujo vulto reluz entre as sombras,
Cuja forma mostra-se alegre,
Na claridade, tua luz é ainda maior,
Que, ante meus olhos baços, faz tua sombra brilhar!
Como (eu diria) seriam meus olhos abençoados
Ao ver-te à luz do dia,
Quando, na calada da noite, tua sombra bela e imperfeita
Permanece sob minhas pálpebras durante o sono!
Todos os dias são noites, até que eu te veja,
E as noites, dias claros, ao mostrar-te em meus sonhos.

SONETO 44

Se o pensamento fosse a baça matéria de minha carne,
A infame distância não impediria meu caminho;
Pois, então, apesar do espaço, eu seria trazido,
De lugares bem remotos, até onde estás.
Assim, não importa, embora tenha posto os pés
Em terras mais afastadas de ti,
Pois o pensamento ágil salta por terras e mares,
Assim que imagine onde ele possa estar.
Mas, ai, mata-me pensar não ser lembrado,
Para saltar as longas distâncias aonde foste,
Mas isto, vencendo tantas terras e águas,
Devo ceder ao tempo com meu gemido,
Não recebendo tão lentamente os elementos,
Mas pesadas lágrimas, sinais de nossos lamentos.

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