quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 129

O desgaste do espírito quando se envergonha
É obra da luxúria; e, até a ação, a luxúria
É perjura, assassina, sanguinária, culpada,
Selvagem, extrema, rude, cruel, desleal,
Logo desfrutada, porém, em seguida, desprezada,
Perdida a razão, e logo esquecida,
Odiada razão, como isca lançada
De propósito para enlouquecer a presa;
Insano ao ser perseguido, e possuído;
Tido, tendo, e quase ao ter, extremo;
Felicidade ao provar, e uma vez provado, a tristeza;
Antes, uma ansiada alegria; por trás, um sonho;
O mundo bem sabe, embora ninguém se lembre
De descartar o céu que a este inferno os conduz.

SONETO 130

Os olhos de minha amada não são como o sol;
Seus lábios são menos rubros que o coral;
Se a neve é branca, seus seios são escuros;
Se os cabelos são de ouro, negros fios cobrem-lhe a cabeça.
Já vi rosas adamascadas, vermelhas e brancas,
Mas jamais vi essas cores em seu rosto;
E alguns perfumes me dão mais prazer
Do que o hálito da minha amada.
Amo-a quando ela fala, embora eu bem saiba
Que a música tenha um som muito mais agradável.
Confesso nunca ter visto uma deusa passar –
Minha senhora, quando caminha, pisa no chão.
Mesmo assim, eu juro, minha amada é tão rara
Que torna falsa toda e qualquer comparação.

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