segunda-feira, 13 de julho de 2009

SONETO 149

Como podes, ó cruel, dizer que eu não te ame,
Quando, contra minha vontade, a ti me entrego?
Não penso em ti, quando esqueço
De mim, por tua causa, brutal tirana?
A quem odeias, que chamo de amiga?
A quem rejeitas, que adulo e acaricio?
Não, se me desprezas, não me vingo
De mim mesmo com pesar profundo?
Que mérito me diz respeito,
Que, por orgulho, despreze teu serviço,
Quando o melhor de mim venera teus defeitos,
Sob o jugo e mando de teus olhos?
Mas, amor, me odeia, pois agora sei o que queres;
Amar a todos que te veem, e que eu te seja cego.

SONETO 150

Ó, que força usas para teres tanto poder
Que não deixa meu coração se desviar?
Fazer-me mentir diante do que vejo,
E jurar que a luz não abençoe o dia?
Desde quando adoeceste tudo,
Que em negar teus próprios atos
Há tanta força e mostra de talento,
Que fazem teus defeitos superar teus dons?
Quem te ensinou a fazer-me amar-te mais ainda,
Por mais o que eu ouça e veja só cause o ódio?
Ah, embora eu ame o que outros odeiam,
Como eles, não deverias me ter horror.
Se tua falta de valor fez que eu te amasse,
Mais valia tenho por amares a mim.

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