quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 117

Disto podes me acusar; que me neguei
A pagar mais uma vez por teus abandonos,
Esquecido de ver o teu amor,
Aonde os laços me prendem a cada dia;
Que tenho estado com as mentes mais impuras,
E cedido ao tempo teu direito adquirido;
Que icei velas a todos os ventos
Que me roubaram de teus olhos.
Marca todas as minhas vontades e erros,
E, com essas provas, acumula conjecturas,
Impõe-me o teu juízo,
Mas não me ataques com teu ódio:
Pois meu apelo revela que tudo fiz para provar
A constância e a virtude do teu amor.

SONETO 118

Para aguçar nossos apetites
Urgirmos o palato a provar de tudo;
Para prevenir moléstias desconhecidas
Adoecemos para afastar as doenças ao nos purificar.
Mesmo assim, prenhe de tua doçura inebriante,
Para amargar os molhos fiz a minha comida,
E, doente de bem-estar, encontrei um tipo de igualdade
Para adoecer onde houvesse necessidade.
Eis a política do amor, antecipar
Os males que não existem, alimentados pelas falhas,
E trazidos à medicina em condição saudável,
Que, igualada à bondade, seria curada pelo mal.
Mas, então, aprendi, e vejo a verdade na lição,
Os remédios envenenam quem adoeceu de ti.

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