quinta-feira, 16 de julho de 2009

SONETO 103

Ah! Que pobreza traz a minha Musa,
Que de tal modo demonstra seu orgulho,
Mesmo o ínfimo argumento vale mais,
Do que ouvir meus elogios a seu favor.
Ah, não me culpes se eu não mais escrever!
Olha no espelho, e lá verás um rosto
Que em muito supera minha torpe invenção,
Borrando minhas feições, e lançando-me em desgraça.
Não era pecado, então, ao tentar emendar,
Arruinar o ser que antes era são?
Porque meus versos não tendem a mais nada
Do que a bendizer tuas graças e teus dons;
E mais, muito mais, do que em meus versos cabe,
Teu espelho te diz ao te mirares nele.

SONETO 104

Para mim, bela amiga, jamais serás velha,
Pois assim como eras da primeira vez,
Ainda me pareces bela. O frio de três invernos
Ceifou das florestas o calor de três verões,
Três belas primaveras amareleceram no outono,
Eu vi, com o passar das estações,
Três perfumes de abril arderam em três quentes junhos,
Desde que te vi tão jovem ainda a preservar a juventude.
Ah, embora a beleza, mão avara,
Roube de sua imagem, e não perceba seu gesto;
Então tua doce cor, que para mim ainda é fresca,
Alterou-se, e meus olhos podem se enganar.
Por medo de que, ouve bem, envelheças intacta:
Desde que nasceste, morreu o verão da beleza.

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